sábado, 19 de fevereiro de 2011

ANOS 80 QUEM LEMBRA

Bem vindos à sessão flashback!

Antes de entrar na parte divertida da década considerada por muitos como “a década perdida”, aqui estão alguns dos acontecimentos que eu considero muito importantes, para a política e para a sociedade em geral:

-1980: O partido dos trabalhadores (PT) foi oficialmente criado, o poeta Vinicius de Moraes morre e John Lennon é assassinado por um fã.
-1984: Diretas já! (será que elas eram tão diretas assim?)
-1985: Fim do regime militar: Tancredo Neves é eleito presidente do país, porém falece antes de tomar posse, deixando a presidência para José Sarney (que hoje em dia é senador e membro da academia brasileira de letras). Esse ano não foi só de desgraças: nós tivemos também o “Rock in Rio”!
-1986: Dois grandes acidentes: o Plano Cruzado 1 e 2 e o acidente nuclear em Chernobyl.
-1988: Chico Mendes é assassinado.
-1989: o Brasil tem a sua 1° eleição direta para presidente em quase 30 anos. A queda do muro de Berlim unifica novamente a Alemanha, e o mundo perde Raul Seixas.

Na Moda (ou fora dela).

Você lembra do Kichute e do All-Star de todas as cores possíveis e imaginárias? Da calça fuseaux, do lurex, de usar a combinação camisa stretch + calça de lycra da Inega, aquela que você tinha que pedir ajuda da sua irmã para subir pelas pernas. E aquela sua blusa com mangas morcego, estampa de oncinha e ombreiras do tamanho das que os jogadores de futebol americano usam?

Não me diga que você nunca usou polainas com listras multicoloridas? E as acid washed, minissaias e calças de jeans (com a cintura que de tão alta ia até quase ao pescoço, e ainda tinha gente que usava suspensório), tudo isso mais as sandálias de plástico. Lembra das meias-calças de renda coloridas e rasgadas? Aliás, tudo era colorido, cítrico para ser mais precisa, e mais um detalhesito: na hora de ir à praia o biquíni tinha que ser asa delta ou fio dental, e as meninas mais ousadinhas iam de topless mesmo...

Lembra dos assessórios: pulseiras de plástico, inúmeras e multicoloridas, todas ao mesmo tempo. Luvas de renda sem as pontas dos dedos (herança de Madonna), brincos enormes, as bandanas, além daquela mania de usar vários relógios ao mesmo tempo? O relógio Swatch que trocava de pulseiras? Os laços enormes na cabeça, tipo Miney Mouse?

Correntes e mais correntes no pescoço; pingentes e mais pingentes pendurados por todas as partes do seu braço; rímel colorido; sombras para os olhos de todas as cores e muitas vezes usadas em degrade; o maldito batom 24 horas, que não saía nem a pau?
Quem ainda lembra que a moda era usar Fiorucci (lembra dos anjinhos das embalagens?), O.P., Hang Tem, além de muitas outras que eu tenho medo de lembrar...

E se você não lembra ou nega ter usado alguns ou todos dos itens acima, eu tenho certeza que, se você pegar algum daqueles álbuns de família, você vai se ver com aquele rabo de cavalo bem no topo da cabeça, com a sua irmã mais nova que era toda metida a punk com a cabeleira cheia de cores, cortada assimetricamente (lembra da Baby Consuelo?). Sua mãe provavelmente vai estar com aquele penteado desfiado cheio de fixador ou gel que não se movia nem com um vendaval, sua priminha com aquele “franjão”, e a sua irmã mais velha com os cabelos repicados e/ou com permanente.

Não é só de más lembranças que os anos 80 são feitos. Passado a vergonha, lembre-se que muitas coisas que com certeza marcaram as nossas vidas, aconteceram nesses anos. Por exemplo...

As Séries de TV

Quem não se lembra da “Gata e o Rato” com Bruce Willis; o incrível “MacGyver”, que sem absolutamente nenhum aparato fazia coisas incríveis; o bigodudo do “Magnum”. Quem nunca quis ir conhecer a “Ilha da fantasia”; ver as “Super Gatas”, aquelas três velhinhas que moravam juntas; o super bonitão “Homem da Máfia”; aquele cara que se transformava em todos os tipos de animais, o “Manimal”. Quem pode esquecer dos dois policiais rodoviários do “Chips” e a série que meu irmão jamais me perdoaria se eu deixa-se de fora: “Incrível Hulk”.
Para os mais novinhos tinha o “Bozo” e sua turma com a vovó Mafalda (que traumatizou muitas crianças ao se descobrir que a vovó era na verdade um vovô, além de fazer a Velha Surda também); o papai Papudo, o “Balão mágico”, o “Show da Xuxa”, a “Mara Maravilha”, “Os Trapalhões”, “Domingo no Parque” e tantos, mais tantos outros programas de TV, que não é a toa que nós não desgrudávamos da telinha.
Juntamente com os seriados tinham os desenhos animados como, por exemplo, a “Caverna do dragão” (um desenho maravilhoso; não conheço uma pessoa que possa falar algo de mal desse desenho); o ”He-man” e sua “irmã” ”She-ha”; o “Manda-Chuva”; “Jossie e as Gatinhas” (que até virou filme); os azulados dos ”Smurfs”; os detetives do “Scooby-Doo”; “Thundercats” (que eu honestamente não era lá muito chegada); e no fim da década, surge os “Simpsons”, que são um sucesso até hoje.

No cinema

Filmes como “O primeiro ano do resto de nossas vidas”, “Clube dos Cinco” e “Garota de Rosa-Shocking” trouxeram uma geração nova de super estrelas, conhecidos com Brat Packs, uma analogia ao Rat Packs formado pelo grupo de Frank Sinatra nos anos 60.
“Guerra nas Estrelas – O império contra-ataca” e o “Retorno de Jedi” lotaram os cinemas; “Procura-se Susan Desesperadamente” com Madonna, que na época era censura 14 anos e eu, que era mais nova, consegui entrar para assistir no cinema!
“Indiana Jones”, “Cegos, Surdos e Loucos”, que é muito legal, vale a pena assistir. “A Hora do Pesadelo”, que até hoje me deixou com medo de filmes de terror, e quem poderia esquecer de colocar nesta lista “Rambo - Programado para Matar”, e logo após “O Exterminador do Futuro”, junto com “A Lagoa Azul”, “Flashdance” e por último, porém com certeza um dos filmes mais marcantes de todas as eras, “ET, o Extraterrestre”.

Os brinquedos

Claro que nem só de cinema e TV se vivia. O “Atari” e o “Odyssey” eram ótimos passatempos para os adolescentes, que evitavam assistir o jornal nacional, pois não estavam nem aí para as “Diretas Já” ou Chernobyl.
Porém, se a casa só tivesse um aparelho de televisão, e alguns adultos fossem interessados em atualidades no Brasil, nos éramos obrigados a sair do espaço virtual, apelando para o “Aquaplay”, para o “Genius” ou para o “Robô Artur” que não fazia lá muita coisa, mas quebrava um galho legal.
Lembra da feia da Susi, que ainda dominava o mercado, e os bonecos do “Comandos em Ação”? A frase “quem não tem cão caça com gato” neste caso é verídica, pois a Susi podia ser uma baranga, porém o estilo militar dos bonecotes quebravam bem o galho para as menininhas que queriam desencalhar a dondoca, mas não tinham o boneco “Bob”. Honestamente, quando a Barbie e o Ken chegaram ao Brasil, eles não foram nem um pouco mal recebidos.

As gírias mais usadas na época

Bode, brega, brega chique, deprê, depri, economês (idioma falado pelos economistas), encanar, fio dental, massa, mercado paralelo, ô meu, pacote econômico, patrulhas ideológicas, pega leve, baba-ovo, chocante, detonar, mala, rolar, rolo, ta crowd e viajar na maionese era o que estava na boca dos jovens dessa época.

A música

No caso de muitas pessoas o que mais marcou os anos 80 foi a música. Até hoje existe um grande movimento retrô que defende essa era como a melhor era musical de todos os tempos, e por outro lado existem pessoas que afirmam que os 80 foram os piores, musicalmente. A minha posição nesse caso é neutra, teve muita coisa boa a muita mais muita porcaria mesmo.
No exterior, apareceram bandas e estrelas como Joy Division, Michael Jackson, Madonna, The Police, U2, The Cure, Dead Kennedys, R.E.M., Guns'n'Roses, Prince, Duran Duran, A-há,The Cult, Flock of Seagulls (lembra dos cabelos dos caras? Cruzes...), os dubladores Milli e Vanilli as famosas boys bands como os Menudos, os New Kids on the Block e aquela vergonha do Locomia.
No Brasil muita coisa aconteceu no campo do rock nacional: a Blitz, o Barão Vermelho, o RPM, o Legião Urbana, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Capital inicial, Lulu Santos, Marina, os Paralamas do Sucesso, o Últraje a Rigor, os Titãs... Nossa, tinha tanta gente... Tinha música tema para tudo: Amor, brigas amorosas, revolta, saudade, mais brigas amorosas, tédio, romance, religião, mais brigas amorosas, e por aí vai...

Falando do Musical em cartaz no Teatro Imprensa:

O musical “Sessão da tarde” retrata muito bem a época. Montada por um elenco jovem e cheio de energia, a peça traz uma trilha sonora bem escolhida, com músicas que fizeram boa parte dos espectadores cantarem.
Entre os números musicais, a história da peça conta um romance, de certa forma ingênua, que retrata bem o relacionamento dos jovens mais ”apoliticados” dessa época, onde uma gang de adolescentes resolve formar uma banda de rock, passando por problemas como desentendimentos, a falta de dinheiro, amores correspondidos e não correspondidos. A melhor parte da peça é a coreografia encenada em conjunto com um vídeo-clip do Michael Jackson, que é projetado em um telão onde os atores da peça “interagem” com o vídeo.

A peça não é uma super produção, ao contrário, o charme desse espetáculo é a simplicidade e falta de pretensão com que foi montado. O cenário e o figurino são simples e bem representativos, fazendo com que momentos de nossas vidas voltem com suas músicas e roupas. A impressão que passa para o público é de intimidade e familiaridade, como se os atores estivessem se divertindo muito durante toda a apresentação.

Muitas partes da atuação das cenas de romance me lembraram um pouco do filme “Moulin Rouge”, trazendo para o palco um mix de varias canções românticas cantadas em duetos. Outras me fizeram lembrar do filme musical “Grease”, com músicas cantadas e encenadas por todos os personagens da peça simultaneamente, hora em coral (que, aliás, é muito bom); outrora com músicas divididas em partes e cantadas em certos momentos por apenas um membro do elenco, enquanto os outros continuavam com a coreografia.

Resumindo, a peça não foi escrita, dirigida ou planejada para ser um musical estilo Broadway. Porém ela foi criada para todos nós, pessoas comuns, que trazem na memória uma era que se foi e marcou muito várias gerações. Garanto que ao assistir essa peça você vai sentir vontade de dar aquela reviradinha no armário atrás daquela foto sua de permanente, ao som de “Lick It Up”...

domingo, 10 de janeiro de 2010

VERANEIO NO SUL

VERANEIO NO R. G. DO SUL
Para conhecimento nacional e reconhecimento regional:
Está chegando o verão e com ele o veraneio, como chamamos aqui no Sul.
Não sei se vocês, de outros Estados, sabem, mas temos o mais fantástico litoral do País: de Torres ao Chuí, uma linha reta, sem enseadas, baias, morros, reentrâncias ou recortes. Nada!
Apenas uma linha reta, areia de um lado, o mar do outro.
Torres, aliás, é um equívoco geográfico, contrário às nossas raízes farroupilhas e devia estar em Santa Catarina.
Característica nossa, não gostamos de intermediários.
Nosso veraneio consiste em pisar na areia, entrar no mar, sair do mar e pisar na areia.
Nada de vistas deslumbrantes, vegetações verdejantes, montanhas e falésias, prainhas paradisíacas e outras frescuras cultivadas aí para cima.
O mar gaúcho não é verde, não é azul, não é turquesa.
É marrom!
Cor de barro iodado, é excelente para a saúde e para a pele! E nossas ondas são constantes, nem pequenas nem gigantes, não servem para pegar jacaré ou furar onda. O solo do nosso mar é escorregadio, irregular, rico em buracos. Quem entra nele tem que se garantir.
Não vou falar em inconvenientes como as estradas engarrafadas, balneários hiper-lotados, supermercados abarrotados, falta de produtos, buzinaços de manhã de tarde e de noite, areia fervendo, crianças berrando, ruas esburacadas, tempestades e pele ardendo, porque protetor solar é coisa de fresco e em praia de gaúcho não tem sombra. Nem nos dias de chuva, quase sempre nos fins-de-semana, provocando o alegre, intermitente, reincidente e recorrente coaxar dos sapos e assustadoras revoadas de mariposas.
Dois ventos predominam, em nosso veraneio: o nordeste – também chamado de nordestão – e o sul, cuja origem é a Antártida.
O nordestão é vento com grife e estilo... estilo vendaval.
Chega levantando areia fina que bate em nosso corpo como milhões de mosquitos a nos pinicar. Quem entra no mar, ao sair rapidamente se transforma no – como chamamos com bom-humor – veranista à milanesa. A propósito, provoca um fenômeno único no universo, fazendo com que o oceano se coloque em posição diagonal à areia: você entra na água bem aqui e quando sai, está a quase um quilômetro para sul. Essa distância é variável, relativa ao tempo que você permanecer dentro da água.
Outra coisa: nosso mar é pra macho!
Água gelada, vai congelando seus pés e termina nos cabelos. Se você prefere sofrer tudo de uma vez, mergulhe e erga-se, sabendo que nos próximos quinze minutos sua respiração voltará ao normal: é o tempo que leva para recuperar-se do choque térmico.
Noventa por cento do nosso veraneio é agraciado pelo nordestão que, entre outras coisas, promove uma atividade esportiva praiana, inusitada e exclusiva do Sul: Caça ao guardassol. Guardassol, você sabe, é o antigo guarda-sol, espécie de guarda-chuva de lona, colorida de amarelo, verde, vermelho, cores de verão, enfim, cujo cabo tem uma ponta que você enterra na areia e depois senta embaixo, em pequenas cadeiras de alumínio que não agüentam seu peso e se enterram na areia.
Chega o nordestão e.... lá se vai o guardassol, voando alegremente pela orla e você correndo atrás. Ganha quem consegue pegá-lo antes de ele se cravar na perna de alguém ou desmanchar o castelo de areia que, há três horas, você está construindo com seu filho de cinco anos.
O vento sul, por sua vez, é menos espalhafatoso. Se você for para a praia de sobretudo, cachecol e meias de lã, mal perceberá que ele está soprando. É o vento ideal para se comprar milho verde e deixar a água fervente escorrer em suas mãos, para aquecê-las.
Raramente, mas acontece, somos brindados com o vento leste, aquele que vem diretamente do mar para a terra. Aqui no Sul, chamamos o vento leste de ‘vento cultural’, porque quando ele sopra, apreendemos cientificamente como se sentem os camarões cozinhados ao bafo.

E, em todos os veraneios, acontece aquele dia perfeito: nenhum vento, mar tranquilo e transparente, o comentário geral é: “foi um dia de Santa Catarina, de Maceió, de Salvador” e outras bichices. Esse dia perfeito quase sempre acontece no meio da semana, quando quase ninguém está lá para aproveitar. Mas fala-se dele pelo resto do veraneio, pelo resto do ano, até o próximo verão.

Morram de inveja, esta é outra das coisas de gaúcho!
Atenta a essas questões, nossa indústria da construção civil, conhecida mundialmente por suas soluções criativas e inéditas, inventou um sistema maravilhoso que nos permite veranear no litoral a uma distância não inferior a quinhentos metros da areia e, na maioria dos casos, jamais ver o mar: os famosos condomínios fechados.
A coisa funciona assim: a construtora adquire uma imensa área de terra (areia), em geral a preço barato porque fica longe do mar, cerca tudo com um muro e, mal começa a primavera, gasta milhares de reais em anúncios na mídia, comunicando que, finalmente agora você tem ao seu dispor o melhor estilo de veranear na praia: longe dela. Oferece terrenos de ponta a ponta, quanto mais longe da praia, mais caro é o terreno. Você vai lá e compra um.
Enquanto isso a construtora urbaniza o lugar: faz ruas, obras de saneamento, hidráulica, elétrica, salão de festas comunitário, piscina comunitária com águas térmicas, jardins e até lagos e lagoas artificiais onde coloca peixes para você pescar. Sem falar no ginásio de esportes, quadras de tênis, futebol, futebol-sete, se o lago for grande, uma lancha e um professor para você esquiar na água e todos os demais confortos de um condomínio fechado de Porto Alegre, além de um sistema de segurança quase, repito, quase invulnerável.
Feliz proprietário de um terreno, você agora tem que construir sua casa, obedecendo é claro ao plano-diretor do condomínio que abrange desde a altura do imóvel até o seu estilo.
O que fazemos nós, gaúchos, diante dessa fabulosa novidade? Aderimos, é claro.
Construímos as nossas casas que, de modo algum, podem ser inferiores às dos vizinhos, colocamos piscinas térmicas nos nossos terrenos para não precisar usar a comunitária, mobiliamos e equipamos a casa com o que tem de melhor, sobretudo na questão da tecnologia: internet, TV à cabo, plasma ou LCD, linhas telefônicas, enfim, veraneamos no litoral como se não tivéssemos saído da nossa casa na cidade..
Nossos veraneios costumam começar aí pela metade de janeiro e terminar aí pela metade de fevereiro, depende de quando cai o Carnaval. Somos um povo trabalhador, não costumamos ficar parados nas nossas praias.
Vamos para lá nas sextas-feiras de tarde e voltamos de lá nos domingos à noite. Quase todos na mesma hora, ida e volta.
É assim que, na sexta-feira, pelas quatro ou cinco da tarde, entramos no engarrafamento. Chegamos ao nosso condomínio lá pelas nove ou dez da noite. Usufruímos nosso novo estilo de veranear no sábado – manhã, tarde e noite – e no domingo, quando fechamos a casa.
Adoramos o trabalhão que dá para abrir, arrumar e prover a casa na sexta de noite, e o mesmo trabalhão que dá no domingo de noite.
E nem vou contar quando, ao chegarmos, a geladeira estragou, o sistema elétrico pifou ou a empregada contratada para o fim-de-semana não veio.
Temos, aqui no Sul, uma expressão regional que vou revelar ao resto do mundo:
-Graças a Deus que terminou esta bosta de veraneio!

Grato Giovana